Pense por um instante sobre uma área da sua vida com a qual está particularmente satisfeito. Que estratégias, hábitos e formas de pensar é que contribuem para que essa parte da vida lhe corra bem? Agora pense numa área da sua vida com a qual está desmotivado e insatisfeito. O que é que faz de diferente numa e noutra? Com que tipo de atitude é que encara uma e outra?
Provavelmente chegou à conclusão que há uma diferença enorme entre a forma como pensamos e atuamos em diferentes esferas da vida. Muitos, senão a maior parte de nós, compreende que o nosso desenvolvimento profissional requer constante atualização e aprendizagem, mas quando se trata de finanças, questionamos ativamente aquilo que sabemos e procuramos adquirir e aprofundar conhecimentos? Ou continuamos incessantemente a fazer aquilo que sempre fizemos, apesar de insatisfeitos com os resultados?
O Hábito Mais Importante
Vamos falar de finanças em específico, mas podíamos estar a falar da vida em geral. Se há um hábito que se sobrepõe a todos os outros e que, inevitavelmente, se traduz em resultados positivos é aprender. Se alguma coisa nos fascina, temos a tendência natural de querer saber mais sobre essa coisa, ou se possível, tudo quanto conseguirmos. Ao sabermos mais, começamos a questionar a maneira como temos agido, implementamos novos hábitos, eliminamos outros, fazemos pequenas mudanças, e assim, de pequeno passo em pequeno passo, vamos vendo diferenças visíveis na nossa vida…. seja na alimentação, na saúde, num hobby, numa língua, num papel que desempenhamos.
Vivemos na era da informação, em que temos acesso a quantidades de informação nunca antes vistas. Com plataformas como a Udemy, a Coursera, a Skillshare ou a Masterclass, aprender uma nova skill ou mesmo profissão está à distância de um clique...Basta haver vontade e dedicação. E hoje, mais do que nunca, porque a ciência e o conhecimento se atualizam a uma velocidade estonteante, não podemos descartar a responsabilidade da nossa vida financeira nas mãos de terceiros. É fundamental, qualquer que seja o momento ou fase da vida em que se encontra, assumir a postura de responsável máximo pela sua situação financeira, e de fazer tudo o que pode para melhorar as suas circunstâncias. E para isso, o hábito mais importante que tem de desenvolver é o de aprender.
Os Dois Elementos Essenciais Para Aprender
Há uma diferença enorme entre aprender de modo formal, como fazemos quando frequentamos um curso universitário por exemplo, em que não temos controlo sobre o programa e a forma como os conteúdos nos são transmitidos, e a aprendizagem informal, que requer que sejamos nós a desenhar o nosso próprio programa, e a definir como interagir com os conteúdos. Esta última implica sermos muito mais ativos, e por isso a um nível de compromisso mais elevado na ausência de repercussões imediatas.
Há dois elementos que elevam a nossa capacidade para aprender, a curiosidade e o growth mindset.
A curiosidade é uma qualidade altamente subestimada, com benefícios psicológicos, emocionais, sociais e até mesmo fisiológicos. No que respeita à aprendizagem, a curiosidade aumenta a resiliência e a perseverança, está associada à criatividade, a menos erros de decisão, maior tolerância ao stress, e a uma performance profissional mais elevada. Já para não falar que as pessoas mais curiosas reportam níveis mais elevados de bem-estar e de satisfação nos seus relacionamentos. Algumas das mentes mais brilhantes da história eram notoriamente curiosas, e foi precisamente essa curiosidade que esteve na origem de várias invenções que hoje fazem parte do nosso dia-a-dia.
O outro elemento facilitador de aprendizagem chama-se growth mindset, e como não podia deixar de ser, temos um artigo inteiro dedicado a este tópico e mesmo assim, julgamos que um artigo só não lhe faz justiça. Foi a psicóloga e investigadora Carol Dweck que estudou e popularizou o tema, que nasceu da constatação de diferenças significativas na forma como as pessoas lidavam os erros e falhanços e nas atitudes que tinham relativamente à inteligência e aprendizagem. As pessoas com uma orientação para o growth mindset acreditam que a inteligência e a suas capacidades podem evoluir graças ao seu esforço e dedicação, e que os erros e falhanços são nada mais que desafios de aprendizagem. Já as pessoas com um mindset fixo (fixed mindset) acreditam que a inteligência é um traço fixo, determinado à nascença e imutável ao longo da vida. Logo, os esforços são inúteis e os erros são atestados de falta de inteligência. É precisamente esta crença e atitude que impede o próprio desenvolvimento e progresso, e que as mantém presas no mesmo sítio.
É importante compreender que podemos ter um “growth mindset” numa área da vida, e noutra termos um “fixed mindset”. Essa consciência é o primeiro passo para a transformação. E qualquer processo que seja regado frequentemente com estes dois elementos, a curiosidade e um mindset de crescimento, irá certamente florescer.
Princípios Para Aprender
Um dos livros que recomendamos relativamente a este tópico, além do Mindset da Carol Dweck, é o “Never Stop Learning” do Bradley Staats, um guia prático para aprender a aprender, em que ele fala não só da necessidade de sermos alunos toda a vida e para toda a vida, como dos princípios para aprender melhor. Aqui fica um pequeno resumo desses princípios:
Desenvolver uma identidade de aluno
Uma das coisas que acontece quando chegamos à idade ou fase mais adulta, é que interiorizamos que somos os detentores de respostas e conhecimento. Pior ainda quando somos “especialistas” nalgum tema e por isso, temos não só essa etiqueta a pesar-nos como ainda os olhos de muitas outras pessoas que, acreditamos nós, esperam um nível de conhecimentos quase sobre humano. É claro que é possível saber mesmo muito sobre um tema, mas por mais que se saiba, há igualmente outro tanto a aprender quando se olha através das lente da curiosidade.
O importante é não deixarmos de nos ver como eternos alunos, capazes e eficazes, e em permanente evolução e crescimento. Uma das coisas que podemos fazer para fomentar esta capacidade é expormo-nos a atividades em que somos totalmente novatos. Não há nada como nos permitirmos ao ridículo, para sacudir do esqueleto a seriedade com que tantas vezes nos levamos. Essa leveza, de calçar um par de patins em linha, quando o equilíbrio nunca foi o nosso forte, e sujeitarmo-nos ao asfalto é incrivelmente valiosa para aprendermos e evoluirmos relativamente aos nossos objetivos.
Fazer perguntas
Outra das coisas que tendemos a descurar com o avançar da vida, é a arte de fazer perguntas. A exploração é absolutamente inata quando somos crianças. Ninguém precisa de nos incentivar a explorar o mundo à nossa volta, porque a nossa sede é intrínseca e o nosso olhar não se esgota nem se conforma com regras de etiqueta ou de socialização, ou com expectativas alheias.
Recuperar essa vitalidade e fascínio pela vida, está à distância de umas quantas perguntas. Se, por exemplo, conhece alguém que tem uma relação saudável com o dinheiro, ou que vive de uma forma que admira e se calhar inveja, escreva 3 ou 4 perguntas que gostaria de lhe fazer e que o podem ajudar a si a navegar melhor essa área da vida, e a descobrir coisas que ainda não descobriu.
Aprender com os erros
Só não erra quem não vive. Mas porque é que algumas pessoas, utilizam os seus erros para aprender e avançar rumo aos objetivos estabelecidos, enquanto outras utilizam os erros para se justificarem por não alcançar os objetivos? Tem tudo a ver com a histórias que contamos a nós próprios e as associações que fazemos. Aprender a errar sem nos identificarmos ou confundirmos com o erro deveria ser disciplina obrigatória na escola. É quando acreditamos que os nossos erros nos definem o carácter e nos limitam a capacidade de chegarmos onde queremos chegar e sermos o que quisermos ser, que nos metemos em sarilhos. E se errar fosse só fruto de falta de informação, ou de uma crença desajustada, ou de uma reação pouco refletida? E se fizémos o melhor que conseguimos, com os recursos que tínhamos na altura e mesmo assim falhámos, é sinal que não conseguimos aprender e fazer melhor com melhores recursos? Claro que não. Um erro é um erro, não é o que nós somos. Se com 20 anos, tomámos más decisões financeiras e acumulámos dívida, isso é sinal que somos incapazes o resto da vida? Só se assim acreditarmos. Caso contrário, podemos olhar para trás e pensar o que é que me levou a agir daquela maneira? O que é que eu aprendi? Como é que eu, agora, posso melhorar a minha situação? O que é que eu preciso de aprender para pagar todas as minhas dívidas?
Focar no processo, não no resultado
Há quem diga que bons resultados são só o fruto de bons processos. Uma pessoa focada em treinar 5 vezes por semana, com um treino compreensivo de reforço muscular, resistência cardiovascular, flexibilidade e mobilidade… não ao final de uma semana, nem provavelmente de um mês, mas depois de um ano e ao longo da vida, enquanto cumprir o plano, vai ver e colher os benefícios desse processo.
E com as finanças não é diferente. Uma pessoa que saiba de trás para a frente os seus números (quanto gasta em quê, quanto ganha antes e depois de impostos, quanto poupa, quanto investe, os juros dos cartões de crédito, as taxas de retorno dos seus investimentos, etc.), que tenha um plano bem definido e ajustado não só à sua realidade, como aos seus valores e objectivos de médio e curto prazo, vai, inevitavelmente, ter melhores resultados do que uma pessoa que escreveu como resolução de ano novo ganhar o dobro nos próximos 12 meses.
Jogar com as nossas forças
Se eu lhe perguntar quais são as suas principais forças e qualidades, sabe responder? E se lhe perguntar pelos seus pontos-fracos? Aposto que responde mais fácil e rapidamente à última pergunta. E, não me interprete mal, não defendo de maneira nenhuma uma postura de avestruz relativamente às nossas fraquezas, estarmos conscientes delas é realmente importante. O que não é tão benéfico é sermos reféns delas. Ou seja, estarmos tão focados nas fraquezas que somos incapazes de as equilibrar com as nossas forças e qualidades. É que isto de ser humano é mesmo assim, é viver com um conjunto de fraquezas e forças que nos tornam únicos e ao mesmo tempo, nada mais, do que humanos.
Mas se este for ano em que decide aprender e melhorar a sua situação financeira, tem que saber quais são os recursos que tem à sua disposição nessa caminhada, e um dos erros mais comuns que tendemos a fazer, é não utilizar devidamente os recursos internos que temos. Por exemplo, se for uma pessoa que adora socializar, facilmente faz amigos e conhece pessoas novas, isso pode ser uma vantagem, que pode e deve ser usada intencionalmente para o seu benefício e benefício dos outros. A facilidade em conhecer pessoas pode aproximá-lo de pessoas com conhecimentos na área que quer desenvolver, e aquilo que já sabe e faz de bem na sua vida, pode ajudar a pessoa do lado de lá, a melhorar a sua própria vida. É um win-win.
Se nunca pensou muito sobre o tema, pode responder a este questionário, que lhe vai dar as suas principais forças de carácter por ordem.
Em Resumo
Refinarmos e elevarmos a nossa capacidade de aprendizagem é uma missão para a vida, um prova de endurance e não um sprint. E, se isso é claro em muitas áreas da vida, as finanças, pelas muitas sensibilidades e conflitos internos que evocam, tendem a ser uma área em que não somos alunos tão aplicados. Eu diria que um dos passos mais importantes nesta área, é realmente comprometermo-nos em aprender sobre o tema, e a persistir face às frustrações do conhecimento, ou da falta dele. Seja através de livros, de blogs (como o nosso) de podcasts, de conversas com entendidos ou de entrevistas a especialistas.. aprender está ao alcance de todos nós. E todos nós merecemos a paz de espírito de saber que sabemos do nosso dinheiro, certo?